Versão Digital - A elaboração eficaz de um programa de força para nadadores das categorias juvenil, júnior e sênior


A elaboração eficaz de um programa de força para nadadores

Figura. A elaboração eficaz de um programa de força para nadadores (1).


A elaboração eficaz de um programa de força para nadadores das categorias juvenil, júnior e sênior a

Prof. Dr. Carlos Alexandre F. Brito ANHANGUERA

Palavras-chave: treinamento, força, resistência, natação de alto rendimento

https://n2t.net/ark:/21207/NADAR.v2i165.23

RESUMO

Elaborar um programa eficaz para o desenvolvimento da capacidade "força" (Figura) pode tomar-se obstáculo ao técnico de natação, principalmente aqueles que almejam uma performance atlética de pico. Os objetivos projetados para a temporada de inverno e verão, estipulados dentro de um macrociclo simples ou duplo do ano vigente, podem desestruturar-se caso omita-se alguns dos princípios do treinamento e da nutrição avançada. Na preparação física em "seco", inclui-se uma avaliação funcional, podendo assim determinar seus objetivos que serão de informar; diagnosticar suas potencialidades e deficiências; individualizar; educar e principalmente fornecer feedback necessário ao período de treinamento.

'A medida que diminui o peso aumenta a velocidade do movimento mas a força muscular se reduz...' (2)

INTRODUÇÃO

A interferência de estímulos decisivos para alcançar o pleno desenvolvimento de suas capacidades potenciais é um fator crítico quando elabora-se um programa para o desenvolvimento da força.

A grande dificuldade que os treinadores podem encontrar durante o transcorrer do macrociclo, pode estar no ajuste quanto aos mesociclos que irão compor todo o programa. Segundo Charles Poliquin (3), a força relativa é um fator essencial para os resultados na natação competitiva de alto rendimento, pois a mesma está expressa em função da massa corporal magra (tecido muscular), seguindo este pensamento filosófico a proposta cientifica teórico-prática é aproximar-se das investigações feitas através dos trabalhos realizados com atletas do leste europeu. Este trabalho também ficou conhecido por "bulgarização". Podemos citar, três das principais características metodológicas: metodologia do agrupamento, sistema de treino com redução de intervalos e sistema de múltiplas sessões de treino.

MÉTODO DE AGRUPAMENTO DAS CARGAS (MÉTODO DE CLUSTER)

Este método tem como principal objetivo fornecer estímulos necessários de maneira atuante nos grupos musculares nas fases de acumulação (atuação no volume de treino) e nas fases de intensificação (atuação na intensidade do treino). Bem definidos, vantagens são oferecidas por este método de trabalho: Um maior tempo de treino sendo exercido sobre as fibras brancas; uma certa "hipertrofia", que se realiza nas unidades motoras; repetições com maiores níveis de força e sendo efetuadas a velocidades mais baixas, o que constitui uma premissa de base para conseguir ganhos de força máxima (Quadros 1 e 2).


Aparelho: supino (livre) reto
01 Realizar uma série de 4 à 5 repetições da máxima
02 Pausa de 10 segundos
03 Realizar o maior número de repetições, com a mesma carga ou inferior.
04 Repetir este exercício de maneira até conseguir realizar um número total de 20 (vinte) à 25 (vinte e cinco) repetições.

Quadro 1. Exemplos do método para fase de acumulação (atuação no volume do treino).


Aparelho: rosca direta em pé com barra
01 Realizar 05 (cinco) repetições isoladas umas das outras com um intervalo de 15 segundos entre si, usando a carga de 03 (três) repetições da máxima para o atleta em questão

Quadro 2. Exemplo do método para fase de intensificação (atuação na intensidade do treino).


SISTEMA DE TREINO COM REDUÇÃO DOS INTERVALOS PARA REPOUSO

Este sistema de treinamento consiste em dosar os intervalos de repouso mantendo-se uma intensidade constante e diminuindo-se cada vez mais os intervalos de repouso (Quadro 3).


Exemplo do método ou sistema
01 5 repetições com 90 kg, com intervalo de 60 segundos.
02 5 repetições com 90 kg, com intervalo de 45 segundos.
03 5 repetições com 90 kg, com intervalo de 30 segundos, e assim sucessivamente.

Quadro 3. Sistema de treino com redução dos intervalos para repouso.


SISTEMA DAS MÚLTIPLAS SESSÕES DIÁRIAS DE TREINO

Tem como característica o emprego de múltiplas sessões diárias de treino com poucas repetições. A base fisiológica para tal sistema está nos níveis de androgênio ao longo da sessão. Chegou-se através de alguns estudos que a diminuição dos níveis de androgênio irá provavelmente afetar significativamente a relação testosterona-cortisol (este dado tem uma relação muito forte e positiva com os ganhos de força). Em termos práticos, sugere-se (4) um intervalo de sessão para sessão em aproximadamente de 4hOO à 6hOO. Isto possibilitará uma maior ativação (ação) exercida sobre o sistema neuromuscular.

INVESTIGAÇÕES FEITAS EM NÍVEL DA NEUROFISIOLOGIA

Investigações feitas através da neurofisiologia, comprovam a eficácia dos métodos empregados e que fazem parte do desenvolvimento da força relativa. As técnicas apresentadas devem conduzir estímulos necessários para que ocorram e produzam níveis limiares mais elevados na ativação das unidades motoras. Três aspectos fundamentais devem ser considerados quando o objetivo do mesociclo for de recrutar as unidades motoras, tais como:

1) Treinar um membro de cada vez. Segundo Vandervort (1984/1987) e Van Soest (1985) é mais fácil maximizar os impulsos nervosos no caso de contrações unilaterais do que nas bilaterais;

2) Contrações alternadas de pares antagonistas. Segundo Caiozzo (1981/1982) a possibilidade de conseguir uma ativação plena por parte das unidades motoras será de realizar movimentos agonísticos. Exemplo: flexão de braço seguido por tríceps braquial com ou sem intervalo determinado;

3) Pausa entre repetições. Desta forma foi comprovado cientificamente que pequenos, médios e grandes intervalos dependendo da intensidade proposta, conseguirá de maneira mais eficaz a ativação das unidades motoras quando comparada ao trabalho sem intervalos determinados.

A COMPROVAÇÃO PRÁTICO CIENTÍFICA

A linguagem do corpo pode ser compreendida de maneira fácil e rápida através de controles, análises e instrumentações comparativas. Para poder preencher esses requisitos será de suma importância uma avaliação funcional; que tem como principal objetivo: Obter informação quanto ao estado de saúde do avaliado; diagnosticar as potencialidades e deficiências referentes às vivências físicas relevantes para a prática do exercício; orientar o trabalho individualizado; servir como feedback durante o processo de treinamento; servir como processo educacional pelo qual o avaliado aprende a compreender melhor seu corpo, levando-o a uma maior aplicação nos treinamentos e por conseguinte a um melhor desempenho.

A população estudada foi um grupo de atletas distribuídos nas suas respectivas categorias e sexo. Totalizou-se em 38 nadadores, sendo divididos da seguinte forma: categoria juvenil - dez do sexo masculino e três do sexo feminino; categoria júnior - doze do sexo masculino e oito do feminino; categoria sênior - um do sexo masculino e quatro do feminino. Neste estudo foi comprovado, em termos percentuais que:

1) O aumento da massa muscular, chegou a variar em torno de 40%, para nadadores do sexo masculino e 35%, para nadadores do sexo feminino;

2) A diminuição da massa muscular por parte principal do sexo feminino, ficou em torno de 1 % à 2%;

3) A variação da estatura, devido a faixa etária estudada, chegou a um percentual de 1% à 2% para nadadores do sexo feminino, 3% à 4% para nadadores do sexo masculino.

Foram cedidos alguns escores fisiológicos através da avaliação funcional.

Para um melhor entendimento do programa que foi realizado para essas categorias, exemplificaremos dois nadadores que obtiveram resultados significativos na temporada de inverno de 1994, tanto no Campeonato Nacional como no Campeonato Paulista júnior I e II (Gráficos 1 e 2). Por uma questão de coerência, abordaremos apenas uma prova individual de cada nadador juntamente com alguns resultados que foram colhidos em campo através da avaliação funcional.


ATLETA FEMININA - ANÁLISE DA PROVA DE 200M MEDLEY - TEMPORADA DE INVERNO

Gráfico 1. ATLETA FEMININA - ANÁLISE DA PROVA DE 200M MEDLEY - TEMPORADA DE INVERNO
Categoria Júnior 1 - 1º Ano
AVALIAÇÃO FUNCIONAL 1º SEM.
GORDURA: INICIAL 10,52%; FINAL 10,37% - PESO: INICIAL 56,40; FINAL 56,60Kg - MASSA CORPORAL MAGRA: INICIAL 49,58; FINAL 50,74


ATLETA MASCULINO - ANÁLISE DA PROVA DE 100M PEITO - TEMPORADA DE INVERNO

Gráfico 2. ATLETA MASCULINO - ANÁLISE DA PROVA DE 100M PEITO - TEMPORADA DE INVERNO
Categoria Júnior 1 - 1º Ano
AVALIAÇÃO FUNCIONAL 1º SEM.
GORDURA: INICIAL 9,22%; FINAL 9,22% - PESO: INICIAL 66,00Kg; FINAL 57,30Kg - MASSA CORPORAL MAGRA: INICIAL 59,92; FINAL 51,10


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O programa elaborado de forma compatível à realidade de clube paulistano à época de sua implantação conseguiu aproximar-se da filosofia de trabalhos que são propostas pelos estudiosos do leste europeu. A proposta deste trabalho teórico prático continuou sendo desenvolvida pelo clube, com algumas mudanças que para alguns autores podem ser decisivas na performance de pico.

Destas mudanças o que parece ser mais significativo: O dosamento da força relativa na inclusão dos mesociclos, pode ser decisivo, devido a mesma estar relacionada ao tecido muscular magro (unidades motoras), e que dentro do macrociclo consiga produzir força, explosão e velocidade; e uma mudança na linha de pensamento quanto ao volume de treinamento nas séries de resistência muscular localizada.

REFERÊNCIAS

(1) Freepik [Internet]. Swimmer photo created by master1305; 2022. Strong. caucasian professional sportsman, swimmer training isolated on white Free Photo; [cited 2022 Jan 7]; Available from: https://www.freepik.com/photos/swimmer

(2) Zakharov A, Gomes AC. Ciência Do Treinamento Desportivo. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Esporte; 1992. 340 p. ISBN: 978-8572860017.

(3) Poliquin Charles. The Poliquin Principles: Successful Methods for Strength and Mass Development. [place unknown]: Dayton Pubns & Writers Group; 1998. 154 p. ISBN: 978-0966275209.

(4) Weineck J. Manual de Treinamento Esportivo. São Paulo: Editora Manole; 1989.

 


aArtigo adaptado para publicação digital, conforme normas de submissão do periódico. Versão impressa original em: Brito CF. A elaboração eficaz de um programa de força para nadadores das categorias juvenil, júnior e sênior. Nadar Rev Bras Esp Aquat 1994; 77:12-13.


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